domingo, 23 de janeiro de 2011

...

PARA UM DESCONHECIDO

O teu corpo são as vagas, as magas magalis. Ando perguntando do tempo quais suas vantagens, um sobrepor humano sobre coisa de deuses gregos. Amar é como estender meu braço para apertar teu pulso naquela tarde quente que ainda virá. Ando perguntado do tempo quais suas vertigens, depois do medo da noite e do cheiro de mar. Caminhar do pier em direção à barca é rumar fronteira para dentro do absurdo: onde a madeira vaga encontra o oceano, ali é onde somos, suspensos e raros. De toda filosofia esbocei teu corpo hoje, e sopras os cabelos meus com a consciência de homem viril que abandonou de vez a pena para romper do silêncio a música profunda das águas. Com este meu corpo que se alinha ao teu, em que aparatos se encaixam e fundem, hei de romper nossos limites de carne e sal. Sou como a água e a maresia que em profusa harmonia adensam em volume para depois, nos claros de afogar sentimento, revelam do entreaberto o tênue e frágil coração minério. E como a carne faz romper linguagem, e como o silêncio faz romper teu idioma na terra do  meu ser jovem demais, adentro as vagas de tuas paisagens para pintar de azul restingas e areais. E como minhas mãos não estivessem acostumadas a transgredir os espaços, faço-me virgem por detrás da camisa azul de botão, e eis que o corpo mostra que, escafandro, te abraça as costas dos poréns finais.

(06/12/09)

domingo, 16 de janeiro de 2011

O silêncio invade
as rotas da indagação.
Existo?
E as flautas do mar recobram o olvido.
[...]
E eu que amava o sonho dos pássaros,
dizia as vozes imprevisíveis
que dormiam no mar:

"Como posso sonhar,
se a exatidão em que navegam as aves
é maior que a própria vida?"


E as sombras do silêncio repetiam:

"É preciso cantar para invadir o segredo".

sábado, 15 de janeiro de 2011

Enquanto caminho à beira do mar

O ruído das ondas que batem na areia
e estalam nas conchas,
invade as dimensões o corpo,
enquanto caminho à beira do mar.

Enquanto caminho à beira do mar e as aves rasgam o céu,
e despejam em mim, o que rapto do ar,
um presságio infinito.

No ruído das ondas que batem na areia,
as barcas abrem um caminho místico,
para meus pés de sonho atravessarem,
para sempre, rumando, rumando,
sobre as portas que nos chamam indefinidamente.

Mais além um sol que paira por completo,
antes de todo o nascimento,
antes dos nomes.

Enquanto caminho à beira do mar.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Elegia



"Meus mares de navegar
Levai-me dêsses desertos
Deitai-me nas ondas mansas
Plantai meu corpo no mar"
(Zila)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sábado de Carnaval

Um sábado morto nos sonhos,

que não consigo lembrar

Céu gris...suavemente claro

A manhã deseja neblinar...

Seus líquidos,seus sonhos

Uma chuvarada de açúcar e sal!


Vontade de remexer em tudo

Mudar as coisas, que foram coladas

inquieta-me, a vida cristalizada

Parece montanha a espera de um lago!


Soltar meus passos...

Andar por aí, até cansar!

A pauta do dia foi rascunhada...

No fim do dia será rasurada!


Anoitece...

O sono vive no caminho

lua, na fase escondida

amanhã o escuro será claro

Bem vindo o dia!


As horas não apressam os sinos

quero entrar na caixa do presente

desfazer as fitas da ilusão

Mas só tenho nas mãos... papel de pão!


Não sou Hera, nem Vera...

Athenas e Afrodite,

se afastam de mim...

O amor está no mito,

ou no dito do destino?
(02/02/08)
Do alto do meu tempo, contemplo a praça e a cidade, a vida de tantos e tantos enganos. Do mundo fiz pouco caso, ou ao acaso de mim fizeram pouco. Desconheço a ordem dos fatos, a cronologia dos sentimentos. Sei que hoje (e este hoje se estende a muito tempo ao longe) contemplo cisnes, caminho e possuo a tarde, e nada me é estranho. Apenas o mundo, numa dessas andanças, reconstruiu-me sem ideal nem esperança, e o dono da vida, este deus indagado, nem se deu nem ao trabalho de sorrir.Gastei as melhores horas em versos, amores, mistérios. Mas o que fica disso tudo, para dizer assim, ao fim do caminho? Digo que a mim se afigura imensa a verdadeira estrada, que liga o hoje ao sonho e o sonho ao mundo. Digo apenas isso, o resto deixo ao caminho.


(Kaline Muriel)